segunda-feira, 13 de agosto de 2012

De bicicleta em Londres




Segurança é fundamental: Bike messenger não dispensa capacete e luva 
Por Mario Mele

Na semana passada, a morte de um ciclista atropelado por um ônibus nas imediações do Parque Olímpico gerou polêmica quanto à segurança do trânsito em Londres. Após o incidente, o prefeito Boris Johnson imediatamente declarou sua profunda tristeza e se desculpou publicamente com os familiares da vítima que tinha 28 anos.
Os ingleses ficaram ainda mais inconformados porque o ônibus se tratava de um veículo olímpico oficial, que transportava jornalistas a uma luta de boxe. Até o campeão olímpico e último vencedor do Tour de France, Bradley Wiggins, veio a público para clamar por “novas leis de tráfego, incluindo a obrigatoriedade do uso do capacete”. “Ciclistas e motoristas só têm a ganhar com a implementação de leis de segurança para ambas as partes”, disse logo após ter a medalha de ouro pendurada no pescoço.            
É verdade que há mais pessoas pedalando pela capital inglesa do que em qualquer outra cidade brasileira. Basta notar as Barclays, o sistema de bicicletas compartilhadas espalhado pela cidade, para ver o quanto a bicicleta é um meio de transporte habitual e bem aceito. Por isso, a impressão que fica é a de que o acidente que envolveu o ciclista na última semana foi um caso infeliz e isolado, uma fatalidade que chamou ainda mais atenção por causa dos jogos.

Bicicleteiro londrino: Bike shop nos arredores de Camden Town


PARA TENTAR ENTENDER COMO SE COMPORTAM CICLISTAS e motoristas no trânsito londrino, pedalei entre os bairros de Bethnal Green, ao leste de Londres, e o Soho, já na região central. O trajeto foi orientado por vendedores-ciclistas da Rapha, uma marca inglesa de ciclismo focada tanto de performance quanto estilo, presentes durante todo o tempo.
O começo foi por ruas calmas paralelas à avenida City Road. E o clima tranquilo da região somado a um agradável fim de tarde tornavam o pedal um passeio no parque. É um bom momento para entender as bikes inglesas: se carro se dirige do lado direito – e geralmente leva mais de uma semana para se acostumar com isso – na bicicleta os freios também são opostos. Portanto, se você tem o costume de travar a roda dianteira para subir a guia sem tocar a roda de trás, ou acionar com força o freio traseiro, fique atento para não correr o risco de voar por cima da bicicleta.
Educação para os ingleses significa cada um fazer a sua parte. Ao cruzar o farol vermelho as chances de ouvir uma “cornetada” no ouvido são grandes. Todo cuidado é necessário: nesse caso eles preferem afundar a buzina a pisar no freio. Por outro lado, geralmente os londrinos respeitam a distância de 1,5 metro ao ultrapassar um ciclista – e isso também vale aos motoristas de ônibus, que mesmo em grandes avenidas do centro não têm ciúme em dividir a pista exclusiva com os bikers urbanos. Uma indicação simples, mas significativa, de que respeitar para ser respeitado, é de fato, uma atitude que funciona naquela cidade. E o resultado é que todos saem ganhando.

  
Sinal verde: bike e carro se respeitam em Londres

Pelas ruas de Marylebone, já no centro da cidade, o tráfego é intenso. Antes, porém, cortarmos Camden Town e o Regentes Park, um dos principais lugares ao ar livre de Londres. Nessa região que também é próxima ao zoológico, ciclistas de estrada giram forte pela manhã e no final da tarde, e se enfezam se são obrigados a “tirar o pé”. “Pedale mais próximo à calçada”, disse-nos um em tom de bronca. 
 “A mentalidade até que melhorou de uns dez anos para cá”, comentou um dos ciclistas-guias da Rapha que orientaram o city tour de pouco mais de uma hora. Na verdade ele se referia ao pensamento e à atitude dos motoristas em relações aos ciclistas urbanos de Londres, e não ao comportamento de alguns bikers focados em treinamento.
Minutos depois chegaríamos à loja principal da Rapha em Londres, cravada no coração do Soho e cercada de pubs lotados. Em um ambiente festivo, ainda mais propiciado por um happy hour ensolarado, presenciamos pela TV o ciclista Ed Clancy, atleta patrocinado pela Rapha, esmigalhar o recorde mundial de pista na categoria quarteto e ganhar a medalha de ouro para a Grã-Bretanha. Os aplausos e “cheers” puxados pelos ingleses naquele momento só mostravam o quanto vale a pena pensar e agir em prol da bicicleta, como fizeram Wiggins e o prefeito de Londres na semana passada.

  
   
Diversidade: Cada um no seu estilo

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