terça-feira, 1 de maio de 2012

Um city tour de bike - e sem ladeiras - por São Francisco


Em São Francisco, as culturas de pintar paredes e de pedalar não só convivem como se somam




Pedalar em uma cidade conhecida por suas íngremes ladeiras pode parecer loucura ou coisa de atleta. Mas o grande número de ciclistas, ciclovias e rotas de bicicleta de São Francisco prova que a bike é uma grande aliada para quem quer explorar a cidade sem sobressaltos, em seu próprio ritmo, parando sempre que tiver vontade.



Quando escolhi me hospedar em North Point, próximo à área de Fisherman’s Wharf e ao turístico Pier 39, imaginei apenas dois roteiros no pedal: a clássica travessia da Golden Gate até Sausalito e outro que percorresse a orla da cidade. Ir a bairros como Mission e Castro, mais distantes de onde eu estava hospedada, me parecia impossível - ou, no máximo, reservado a ciclistas mais experientes.


Tudo mudou quando, ao invés de seguir naturalmente para a orla, onde há farta oferta de lojas que alugam magrelas, decidi tomar a direção oposta, só por curiosidade. Lembrei que havia passado por outras duas lojas semelhantes no táxi, vindo do aeroporto, bem pertinho do meu hotel. Sabia que as principais locadoras, Blazing Saddles e Bike and Roll, cobravam em média US$ 32 ao dia.


Assim encontrei a Dylan’s Tours. Fui atendida pelo próprio Dylan, que de cara me ofereceu um preço US$ 5 mais baixo que a concorrência e, claro, me ganhou imediatamente. Disse a ele que naquele dia, frio e encoberto, queria só passear de bike pela cidade, e foi ele quem me deu o mapa com o roteiro que mudou a minha maneira de explorar São Francisco.


Seguindo aquelas instruções, eu não pegaria subidas e poderia dar a volta praticamente na cidade inteira. Pela orla, passei no Ferry Building, onde ocorre o principal farmer’s market (espécie de feira livre arrumadinha) de São Francisco. Construído em 1898, funciona também como um mercado, repleto de guloseimas irresistíveis e frutas saborosas.


Como já havia estado ali, passei direto e segui até a Market Street, que concentra lojas, multidões, artistas de rua, mendigos, hippies remanescentes dos anos 1960 e 1970, bandeiras de arco-íris e tudo o mais que se puder imaginar. Se quiser explorar a região e, talvez, fazer umas comprinhas, é só estacionar a bike. A Union Square está a duas quadras dali e, subindo um pouco mais, você chega a Chinatown.



Decidi deixar Chinatown para outro dia e continuei a pedalar. Passei pelo City Hall, onde ocorria uma das muitas feiras orgânicas da cidade e fiz uma pausa para comprar umas frutinhas. A parada seguinte seria no Mission, o bairro latino.
Colorida. Aqui, vale um parêntesis: ao contrário de São Paulo, onde qualquer desenho não-autorizado rapidamente se transforma em um paredão cinza, em São Francisco o grafite está por toda parte: laterais de prédios, muros, casas e até no chão. Essa tradição é exacerbada no Mission, repleto de painéis incríveis - o mais conhecido é o do beco Balmy, mas a bicicleta permite uma mobilidade maior para entrar em outras vielas decoradas, como nas ruas Caledonia e Clarion.
Depois de várias pausas para vários cliques, entrei na 18th Street para ir em direção ao Castro, bairro “hetero friendly” de São Francisco. As bandeiras do arco-íris, símbolo gay, estão espalhadas pelos postes, nas fachadas de lojas das mais diversas especialidades - de itens de decoração e design a sex shops - e até em uma sinagoga. Estacionei a bike na praça que homenageia o político Harvey Milk, símbolo da luta pelo direito dos gays, e fui ver vitrines e almoçar em um dos muitos cafés espalhados por ali. Nada muito pesado, claro: ainda havia muito a pedalar.
A parada seguinte seria em Haight-Ashbury, berço do movimento hippie na década de 1960. No bairro onde viveram ícones da música como Janis Joplin, a aura artística se manteve nas lojas de jovens designers, nas baladas e nas lojas de discos, com peças raras tanto nas prateleiras como procurando por vinis.
Encerrei o tour no Golden Gate Park - ao contrário do que o nome sugere, não fica na área onde está a ponte, mas com vista para ela em alguns pontos. Um parque agradabilíssimo, onde moradores vão se exercitar no fim de tarde. Dali, é possível seguir direto para a região de Presidio - esta sim, junto da Golden Gate. O sol, contudo, já começava a descer no horizonte. Melhor economizar forças para encarar a travessia a Sausalito no dia seguinte. /A.M.
BATE-VOLTA
Dirigindo até Los Angeles 
Um dos trajetos mais clássicos do mundo, sinônimo de liberdade e descoberta, os 560 quilômetros que ligam as colinas de São Francisco ao glamour hollywoodiano de Los Angeles são mitológicos. Como é impossível não lembrar de Jack Kerouac em On The Road, você terá uma enorme necessidade de sentir o vento batendo no rosto e desbravar o litoral da Califórnia a seu modo. Percorra a Highway 1 - chamada de Cabrillo Highway - margeando o Oceano Pacífico e cruzando cidades que evocam todo o espírito californiano, como Santa Cruz e Monterey.
Considerada a primeira scenic route (algo como estrada de paisagem) do Estado, foi construída em 1919 e oferece cenários que fazem o queixo cair a cada curva. Separe de três a quatro dias para a ida e pelo menos um se decidir voltar também de carro. Você pode fazer o caminho mais rápido, pela Interstate 5 (I-5), via expressa que cruza belos pomares de laranjas e pêssegos.
Com exceção de Los Angeles e São Francisco, não vale a pena reservar hotel pelo caminho, já que isso pode engessar seu roteiro. A dica é locar um veículo com quilometragem livre - preste atenção nas condições do contrato - e cair na estrada.
Já que a qualidade delas é boa, a hipótese de alugar um carrão esportivo é sedutora. Mas modelos mais simples dão conta do recado, e a diária sai por a partir de US$ 22 (R$ 41) em sites que cotam várias empresas, como carrentals.com e hotwire.com. Na maioria delas, apresentar a carteira de habilitação brasileira é suficiente, mas caso seja parado por um policial de má vontade, vale a pena estar com a habilitação internacional na mão.









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